Foto: Thais Costa Lima Texto: Lorena Cardoso
Para apresentar o projeto Nivea Viva Elis em Recife, Maria Rita subiu no palco do Parque Dona Lindu com olhos marejados e boca tremendo. A entrada foi o bastante para a multidão presente entender os sentimentos que envolvem o projeto: a responsabilidade de profissional, ao cantar o repertório imortalizado no imaginário coletivo pela voz da “maior cantora que esse país já teve”, como afirmou Maria Rita, e a emoção de filha ao reviver parte de sua história por meio da obra da mãe. As lágrimas até puderam ter borrado a maquiagem, mas não apagaram o brilho e agregaram ainda mais significado à apresentação.
O encontro musical de mãe e filha demorou dez anos para acontecer, graças a esse tempo de amadurecimento, pessoal e profissional, Maria Rita conseguiu realizar uma homenagem a altura de Elis Regina. A cantora mostrou segurança, técnica, emoção, também interpretação e voz afinadíssima. Também mostrou sua marca registrada em shows: cenário bonito e simples, iluminação calculada, além da banda, que mais do que acompanhar, deu o tom do show, com arranjos novos e cuidadosos. Alguns fãs não deixaram escapar, durante a apresentação, outro detalhe que já faz parte dessa marca registrada: os sapatos deslumbrantes da cantora! A empresa Nívea, que patrocina o projeto, distribuiu brindes divertidos, entre eles bolinhas de sabão, que foram feitas, conforme indicação, durante a segunda música do show. A empresa também garantiu água, que aliviou o cansaço de quem chegou ainda sob sol forte.
O repertório foi muito bem montado. Por meio dele é contada a trajetória de Elis Regina, ressaltando alguns dos pontos mais importantes de sua carreira: a sua consagração com “Arrastão”, momento do show onde o público soltou bolinhas de sabão; os seus ídolos, Cauby Peixoto, Ângela Maria e Tom Jobim; o seu engajamento político, com o tema da anistia; os compositores que lançou, entre eles, MR destacou Milton Nascimento, a lançou e foi lançado por Elis.
Em suas falas, durante o show, a cantante fez agradecimentos – ao publico, aos músicos, ao patrocínio, ao irmão, à prefeitura – e falou de sua relação com a cidade de Recife, onde deu seus primeiros passos sob o olhar da mãe, como descobriu recentemente. Também comoveu por sua transparência ao falar da relação com Elis, de sua idealização da figura materna e do seu encontro com a mãe por meio de suas músicas. Ela afirmou que a maturidade a faz compreender sua mãe e se identificar com ela em suas músicas, que foram ganhando significados diferentes ao longo do seu desenvolvimento.
O público era inclassificável. Crianças, adultos, idosos, fãs da mãe, da filha, da família toda. Gente de Recife, Olinda, Fortaleza, Brasília, Maceió… Gentes tão diferentes, mas que uniram as vozes em um coro, uma só nota, que emocionou a cantora diversas vezes, e fez com que ela calasse e deixasse o povo levar a música, como se reafirmasse o que diz a letra de Imagem, que abre o show, “ é de vocês o meu cantar, é só pra vocês nosso cantar”.
Maria Rita não poderia ter escolhido melhor forma de celebrar seus 10 anos de carreira, cantar Elis Regina com um projeto tão cuidadoso foi tão acertado quanto a comemoração das bodas de Elis em dueto com Tom Jobim. Assim como o encontro da Pimentinha com o maestro, esse projeto merecia um registro de qualidade para a eternidade.
Sai a cosplayer de aprendiz de jornalista, entra a fã.
Pelo twitter, a Maria Rita me agradeceu por ter ido ao show, atravessando mais de 800 km de carro para vê-la, porém eu é que tenho que agradecer. O que eu senti ali naquele parque só consegui expressar em lágrimas. Sempre soube que esse show mexeria muito com as minhas emoções, afinal o repertório de Elis também faz parte da minha história e eu sou mais derretida que manteiga de garrafa ouvindo música, mas nunca imaginei que seria daquela forma. Chorei desde que a MR pôs os pés no palco, chorando também, até o final. Além da emoção de ouvir Elis na voz da Maria, o que mais mexeu comigo foi o fato do show ter me preenchido como nunca antes tinha acontecido. Adoro os shows da MR, todos estão gravados na memória e coração, mas quem me conhece sabe da minha frustração de nunca ter conseguido uma foto com a cantora (durante esses quase seis anos correndo atrás dela!), e todo fim de show, é sem querer, bate um vazio, pois vejo indo embora a ilusão de realizar esse sonho. Dessa vez foi diferente. Não esperei nada além de um grande show e recebi um reconhecimento acolhedor, mesmo que só eu tenha percebido (quase como se canta em “Cupido”). Isso é uma coisa muito interna, pessoal e deve ter acontecido em parte porque, enfim, deixei de lado esse sonho adolescente/infantil, e por outra porque acho que esse show tem uma magia diferente. Já nem sei mais explicar, só sei que foi assim. Pronto, desabafei com vocês o motivo d’eu ter a audácia de dizer que esse foi o melhor show da vida.
Beijo,
Lorena.